Reynaldo Bignone responde pela acusação de crimes de lesa-humanidade cometidos na guarnição militar portenha de Campo de Mayo contra 20 pessoas
O ex-ditador argentino Reynaldo Bignone, de 84 anos (Leo La Valle / EFE)
Um tribunal argentino deu início nesta quinta-feira ao julgamento do ditador Reynaldo Bignone pela acusação de crimes de lesa-humanidade cometidos na guarnição militar portenha de Campo de Mayo contra 20 pessoas, entre elas sete grávidas que foram sequestradas e assassinadas, durante o regime militar na Argentina (1976-1983).
Neste quartel funcionou um dos maiores centros clandestinos de detenção do governo da época, além de uma maternidade ilegal por onde passaram várias mulheres que atualmente se encontram desaparecidas.
O funcionário da Secretaria de Direitos Humanos da Argentina, Ciro Anicchiarico, explicou, em entrevista concedida à Radio Nacional, que mais de 5.000 vítimas foram registradas em Campo de Mayo e que não existem dados precisos sobre o número de nascimentos ocorridos no local.
Demais acusados - Bignone está sendo julgado junto aos ex-militares Santiago Riveros, Eugenio Guarañabens Perelló, Luis Sadí Pepa, Julio São Román, Hugo Castagno Monge e Carlos Eduardo Somoza, além do ex-oficial da inteligência do exército Carlos del Señor Garzón e sua esposa, María Francisca Morillo, acusados de apropriar Laura Catalina de Sanctis Ovando, cuja identidade foi restituída em 2008.
“Este julgamento significa abrir feridas, limpá-las e aliviá-las. É uma maneira de honrar meus pais biológicos", disse Laura Catalina à agência estatal Télam.
Alba Lanzilotto, irmã de Ana María, que desapareceu em 1976 quando estava grávida de oito meses, afirmou que “deseja que todos os envolvidos paguem pelo dano que fizeram ao país”.
Alba, que é integrante do grupo Avós da Praça de Maio, diz ter a esperança de que “este julgamento sirva para que meu sobrinho ou sobrinha e outras 400 [crianças apropriadas] que sumiram reflitam sobre a necessidade de saber a verdade e de sair desse mundo de mentiras”.
Histórico - Bignone, de 84 anos, já foi condenado em 2010 e em 2011 a 25 anos de prisão por crimes cometidos no Campo de Maio, enquanto no último mês de dezembro pegou mais 15 anos de cadeia pelos crimes realizados em uma penitenciária clandestina que funcionou dentro do hospital público Posadas, nos arredores de Buenos Aires.
Em julho deste ano, o ex-ditador recebeu outra condenação de 15 anos de prisão pelo roubo de bebês durante a ditadura, um processo no qual o ex-ditador Jorge Rafael Videla (1976-1981) recebeu uma sentença a 50 anos de prisão.
Bignone, que esteve no poder entre 1982 e 1983, ordenou a destruição de toda a documentação existente sobre prisões, torturas e assassinatos durante o regime que deixou um saldo de 30 mil desaparecidos, segundo números do governo e de entidades humanitárias.
(Com Agência EFE)