O Brasil está diante de uma oportunidade única em sua história esportiva. Quase todo país que entra em uma Olimpíada na condição de organizador dos Jogos seguintes pode voar para subir vários degraus no ranking internacional.
Isso vale em primeiro lugar nas competições de alto rendimento, refletindo-se no número de medalhas a serem conquistadas. Vale, da mesma forma, o que é ainda mais importante do que os simples resultados, para a arrancada na massificação das atividades físicas em uma nação tão sedentária que nem a nossa, em que a obesidade ameaça se tornar uma epidemia – mantido o ritmo atual, em poucos anos ela corre o risco de atingir 30% da população, segundo alguns estudos –, com todas as suas danosas consequências para a saúde, o bem-estar e a longevidade dos brasileiros. E vale para alavancar desde já, mas em especial a partir de 2016 com a realização no Rio de Janeiro deste que é o maior espetáculo da Terra, a participação popular, resultando na formação de público assistente e praticante de tantas modalidades hoje inexpressivas.
A possibilidade de ascensão no quadro de medalhas, em um impulso comparável aos saltos com vara de Fabiana Murer, é o mais fácil de comprovar. Basta ver o que aconteceu em tempos recentes com os países que souberam aproveitar sua chance. A Grécia, em 2004, e a China, em 2008, é verdade, não são bons exemplos. Uma por não ter se destacado nem à sombra do Partenon, a outra, campeã de medalhas em Pequim (51 ouros, à frente dos Estados Unidos), pelo gigantismo de outra escala.
Recapitulemos rapidamente, porém, o que aconteceu com a Coreia do Sul, a Espanha e a Austrália. Em 1984, nos Jogos de Los Angeles, a Coreia do Sul – que estava então na mesma situação que a nossa, pois seria a próxima anfitriã– ganhou seis medalhas de ouro. Dobrou esse número em casa e o manteve em 1992. Há quatro anos, alcançou treze. A Espanha pulou de um mísero ouro em 1988 para treze em 1992, na cidade de Barcelona. Não manteve o ritmo, embora voltasse da China com cinco. A Austrália, poderosa há décadas em modalidades como a natação, foi muito além e destacou-se como uma potência tanto em Sydney quanto em Atenas ao terminar as duas competições em quarto lugar na classificação geral, atrás apenas dos EUA, Rússia e China.
Esses três países estão, nos dias que correm, em um patamar esportivo muito mais elevado do que se encontravam antes de realizarem os respectivos Jogos. Mesmo com todos os seus atuais problemas econômicos, os espanhóis também souberam construir uma herança olímpica. A bela capital da Catalunha, para citar somente um número vistoso na área que é uma óbvia vocação do Rio, recebia antes de 1992 pouco menos de 2 milhões de turistas por ano. Em 2011, acolheu 7,4 milhões. Londres, nos seus preparativos, recuperou áreas deterioradas que, em determinados aspectos, até lembravam certos cenários de pobreza descritos nos romances do escritor inglês Charles Dickens, cujo segundo centenário de nascimento é celebrado este ano.
Há grandes esperanças, para citar novamente o autor de Um Conto de Duas Cidades – com a licença dos colegas de cobertura Fábio Altman e Jonas Oliveira. Mas é preciso aproveitar agora um momento que não irá se repetir. Ou como o próprio Dickens escreveu, antecipando em pelo menos um século a onda de auto-ajuda: “Meu conselho é nunca fazer amanhã o que você pode fazer hoje”.