domingo, 29 de julho de 2012

Regiões de Alepo vivem a maior repressão em 16 meses


Forças do regime de Assad iniciaram um bombardeio de preparação para a ofensiva que pretende recuperar as áreas em poder dos rebeldes na cidade


Retrato do presidente sírio, Bashar al-Assad queimando durante confrontos entre rebeldes e as tropas sírias no distrito de Salaheddin norte da cidade de Aleppo (Bulent Kilic/AFP)

Regiões de Alepo, a maior cidade da Síria e posição estratégica no conflito, viveram neste sábado a mais violenta repressão desde o início da crise no país, há 16 meses. As forças do regime de Bashar Assad iniciaram neste sábado um bombardeio de preparação para a ofensiva que pretende recuperar as áreas em poder dos rebeldes na cidade, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).





Entenda o caso
• Na onda da Primavera Árabe, que teve início na Tunísia, sírios saíram às ruas em 15 de março de 2011 para protestar contra o regime de Bashar Assad.
• Desde então, os rebeldes sofrem violenta repressão pelas forças de segurança, que já mataram milhares de pessoas no país.
• A ONU alerta que a situação humanitária é crítica e investiga denúncias de crimes contra a humanidade por parte do regime.
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As forças mobilizadas para a ação, posicionadas há vários dias nos arredores da metrópole, seguem para o bairro de Salahedin, onde estão a maioria dos rebeldes. "Podemos dizer que a ofensiva começou", declarou Rami Abdel Rahman, presidente do OSDH. "Os combates mais violentos desde o início da rebelião acontecem em vários bairros", completou.

Os rebeldes não executaram nenhuma operação importante nos últimos dois dias, economizando as escassas munições antitanque. Segundo analistas, a batalha é extremamente importante para as duas partes. De um lado, o regime espera que seus aliados, os ricos comerciantes de Alepo, financiem parte do esforço bélico. Os rebeldes aspiram criar uma zona de proteção, como os insurgentes líbios fizeram em Bengasi.

Vários países e a ONU manifestaram preocupação ante a possibilidade do ataque. Washington mencionou o risco de um novo massacre no país, abalado por 16 meses de violência provocada pela repressão de um inédito movimento de revolta contra o regime. O governo dos Estados Unidos advertiu sobre o perigo de um "massacre" e condenou a "odiosa agressão das forças de Assad contra este centro de população civil".

Alvos - Os Comitês Locais de Coordenação (LCC) informaram que os combates acontecem no sudoeste de Alepo. A Comissão Geral da Revolução Síria, outra rede de militantes, informou ainda sobre a presença dos reforços do Exército em Salahedin "em meio a intensos disparos de metralhadora" e combates entre governistas e rebeldes. Os insurgentes estão entrincheirados sobretudo nos bairros do sul e sudoeste da cidade.


Segundo o OSDH, um grande movimento de fuga acontece atualmente no bairro de Al-Sukari (sul), após a queda de um obus e de violentos confrontos em Hamdaniyeh (oeste). A ofensiva teve início mais de uma semana depois da abertura da nova frente, em 20 de julho, depois que o Exército recuperou o centro de Damasco. Muitos habitantes deixaram a cidade e os que permaneceram têm grandes dificuldades de obter material de primeira necessidade.

Mortes - Em toda a Síria, a repressão e os combates deixaram 53 mortos neste sábado, entre rebeldes e civis. Na sexta-feira, o balanço superou 150 mortos, segundo o OSDH. Desde o início da revolta em março de 2011, mais de 19.000 pessoas morreram no país, segundo o OSDH.

A Rússia advertiu que uma "tragédia" ameaça Alepo, destacando que o governo sírio não permanecerá de braços cruzados quando os rebeldes armados ocupam as grandes cidades. "Estamos convencendo o governo de que tem que dar os primeiros passos, mas quando a oposição armada ocupa cidades como Alepo, onde outra tragédia se prepara", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

Comércio de armas - Na véspera, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou-se "decepcionado" com a falta de acordo na negociação sobre um convênio internacional para regulamentar o comércio de armas. "É um retrocesso", após anos de trabalhos preparatórios e quatro semanas de negociações, lamentou Ban. Ele ressaltou que isso não significa um abandono da busca por um tratado, já que os estados "aceitaram perseguir esse objetivo nobre".

Para o titular da ONU, existe agora uma convergência considerável, e os estados podem recorrer ao trabalho realizado durante essas negociações intensas. Seu desejo era um texto "sólido", que permitisse reforçar a capacidade da ONU na luta contra a proliferação de armas.




(Com agência France-Presse)