Diretor israelense volta à Mostra Internacional anunciando seu amor pelo evento e sua admiração pela capital. E não se exime de falar de política no Oriente Médio. "A limitação das mulheres é uma situação alarmante. Essa é a grande realização da Primavera Árabe, fazer as mulheres andar ainda mais para trás?"

O diretor de cinema israelense Amos Gitai, que marcou presença na 36ª Mostra Internacional de SP com o documentário 'Canção para Meu Pai' (Divulgação)
Amos Gitai é um dos queridinhos da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Já apresentou alguns de seus filmes no evento e sempre foi próximo dos diretores Leon Cakoff, morto em outubro do ano passado, e Renata de Almeida, sua viúva. Quando ela pediu que o cineasta israelense viesse novamente ao Brasil para exibir seus dois últimos trabalhos e dar uma oficina gratuita ao público da mostra, ele não pensou muito, apesar das 12 horas de viagem que é incapaz de abstrair. Sua nova visita foi marcada pela exibição dos documentários Canção para Meu Pai (2012) e Carmel (2009), um respiro poético em uma carreira marcada por longas-metragens críticos, sobre a guerra ou a religião em Israel, comoKadosh (1999) e Kippur (2000).
Em Canção para Meu Pai, Gitai mostra a trajetória do próprio pai, o arquiteto polonês Munio Gitai Weinraub, que era estudante da escola de design Bauhaus, na Alemanha, quando ela foi fechada pelos nazistas. Já em Carmel, ele se baseia nas cartas da mãe para traçar o percurso de Israel. Os dois longas dialogam não apenas por se basearem no pai e na mãe do cineasta, mas por trazerem um panorama do país, o verdadeiro tema em toda a obra de Gitai. "Os dois filmes são complementares. Canção para Meu Pai é sobre a diáspora, sobre a Europa, porque termina quando o barco levando meu pai chega a Haifa, à Terra Prometida. E Carmel é todo em Israel, então é mais sobre a situação contemporânea", diz Gitai.
Canção para Meu Pai também faz um comentário sobre a arquitetura atual ao enaltecer a vontade dos profissionais da Bauhaus de pensar não apenas na beleza dos edifícios, mas em quem iria utilizá-los. "Os grandes arquitetos de hoje parecem querer fazer só aeroportos, museus, estádios. Às vezes, acho que eles estão com inveja de nós, cineastas, porque desejam apenas produzir imagens", diz o diretor ao site de VEJA. Ao falar de arquitetura, Gitai também se derrama sobre São Paulo, uma cidade que, para ele, é uma "declaração sobre a modernidade". "É caótica, com seus congestionamentos. São Paulo é uma interrogação."
Gitai também não se exime de falar de política no Oriente Médio. "A limitação das mulheres é uma situação alarmante. Essa é a grande realização da Primavera Árabe, fazer as mulheres andar ainda mais para trás?" Foi sobre a capital paulista, a Mostra Internacional e a situação no Oriente Médio que o cineasta falou nesta entrevista. Confira abaixo os melhores momentos.
Você tem uma relação antiga com a Mostra, não? Eu amo a Renata (de Almeida) e o Leon(Cakoff), pessoas muito especiais. Dá para sentir seu amor pelo cinema. Foi muito triste saber que Leon morreu. Ano passado tive um pressentimento ruim, porque alguns amigos o viram em Cannes e me disseram que ele não estava bem. Como iriam mostrar meu filme em Santiago, no Chile, aproveitei para dar uma passada por São Paulo para encontrá-lo. Almoçamos, algumas semanas antes de ele morrer. Realmente os amo. E acho incrível que a Renata tenha encontrado energia para continuar. São Paulo é uma das cidades mais importantes do mundo, e com a mostra os paulistanos podem ver filmes a que não teriam acesso. Na minha experiência na cidade, percebo que as pessoas apreciam muito esse serviço. Quando a Renata me ligou neste ano, dizendo que queria exibir dois filmes meus, disse a ela que tudo bem, me sentaria 12 horas num voo e viria.
O diretor de cinema israelense Amos Gitai, que marcou presença na 36ª Mostra Internacional de SP com o documentário 'Canção para Meu Pai' (Divulgação)
Amos Gitai é um dos queridinhos da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Já apresentou alguns de seus filmes no evento e sempre foi próximo dos diretores Leon Cakoff, morto em outubro do ano passado, e Renata de Almeida, sua viúva. Quando ela pediu que o cineasta israelense viesse novamente ao Brasil para exibir seus dois últimos trabalhos e dar uma oficina gratuita ao público da mostra, ele não pensou muito, apesar das 12 horas de viagem que é incapaz de abstrair. Sua nova visita foi marcada pela exibição dos documentários Canção para Meu Pai (2012) e Carmel (2009), um respiro poético em uma carreira marcada por longas-metragens críticos, sobre a guerra ou a religião em Israel, comoKadosh (1999) e Kippur (2000).
Em Canção para Meu Pai, Gitai mostra a trajetória do próprio pai, o arquiteto polonês Munio Gitai Weinraub, que era estudante da escola de design Bauhaus, na Alemanha, quando ela foi fechada pelos nazistas. Já em Carmel, ele se baseia nas cartas da mãe para traçar o percurso de Israel. Os dois longas dialogam não apenas por se basearem no pai e na mãe do cineasta, mas por trazerem um panorama do país, o verdadeiro tema em toda a obra de Gitai. "Os dois filmes são complementares. Canção para Meu Pai é sobre a diáspora, sobre a Europa, porque termina quando o barco levando meu pai chega a Haifa, à Terra Prometida. E Carmel é todo em Israel, então é mais sobre a situação contemporânea", diz Gitai.
Canção para Meu Pai também faz um comentário sobre a arquitetura atual ao enaltecer a vontade dos profissionais da Bauhaus de pensar não apenas na beleza dos edifícios, mas em quem iria utilizá-los. "Os grandes arquitetos de hoje parecem querer fazer só aeroportos, museus, estádios. Às vezes, acho que eles estão com inveja de nós, cineastas, porque desejam apenas produzir imagens", diz o diretor ao site de VEJA. Ao falar de arquitetura, Gitai também se derrama sobre São Paulo, uma cidade que, para ele, é uma "declaração sobre a modernidade". "É caótica, com seus congestionamentos. São Paulo é uma interrogação."
Gitai também não se exime de falar de política no Oriente Médio. "A limitação das mulheres é uma situação alarmante. Essa é a grande realização da Primavera Árabe, fazer as mulheres andar ainda mais para trás?" Foi sobre a capital paulista, a Mostra Internacional e a situação no Oriente Médio que o cineasta falou nesta entrevista. Confira abaixo os melhores momentos.
Você tem uma relação antiga com a Mostra, não? Eu amo a Renata (de Almeida) e o Leon(Cakoff), pessoas muito especiais. Dá para sentir seu amor pelo cinema. Foi muito triste saber que Leon morreu. Ano passado tive um pressentimento ruim, porque alguns amigos o viram em Cannes e me disseram que ele não estava bem. Como iriam mostrar meu filme em Santiago, no Chile, aproveitei para dar uma passada por São Paulo para encontrá-lo. Almoçamos, algumas semanas antes de ele morrer. Realmente os amo. E acho incrível que a Renata tenha encontrado energia para continuar. São Paulo é uma das cidades mais importantes do mundo, e com a mostra os paulistanos podem ver filmes a que não teriam acesso. Na minha experiência na cidade, percebo que as pessoas apreciam muito esse serviço. Quando a Renata me ligou neste ano, dizendo que queria exibir dois filmes meus, disse a ela que tudo bem, me sentaria 12 horas num voo e viria.